Desenho, alfabetização e linguagem


DESENHO, ALFABETIZAÇÃO
E LINGUAGEM

Em muitos desenhos que as crianças produzem podem representar a tentativa de escrita. Esses desenhos são uma forma de construir, organizar, registrar, expressar seu saber, uma forma de tradução de algum símbolo ou palavra que as mesmas ainda não dominam, representam também  noção de espaço, tempo, cores e até mesmo noção sociocultural. Os desenhos que as crianças produzem não podem ser considerados, como algo sem significação, isolado, descontextualizado, pois quando ela desenha algo, ela insere em um contexto que pode estar vivenciando, ou até que seja de sua imaginação.

Esses desenhos podem ser pequenos rabiscos que se misturam entre linhas retas e curvas, e o significado da escrita só à criança pode decifrar, pois é uma representação do que ela imagina o que seja escrita. Cada criança tem uma expectativa e desempenho na aprendizagem da escrita e leitura, é preciso conhecer a criança e o meio social em que ela vive para tentar decifrar e entender a sua tentativa de escrita.

É preciso que o mediador incentive e faça o aluno a ver o quanto é importante o ato da leitura e da escrita, estimular o interesse  a praticá-las, pois só assim eles aprenderam e encontrarão a melhor forma de aprender ler e escrever.

    É importante, que o aluno saiba o quê está desenhando, interpondo, decifrando a leitura de algo por meio dos rabiscos, figuras etc. E o significado de cada um, ou seja, toda forma de desenho deve ter um objetivo.

Através do desenho e das formas, o aluno tem possibilidades de expor e de se expressar criticamente sua relação com o mundo e com o outro. Se a escola permitir o acesso a trabalhos que favoreçam a prática artística como forma de leitura e expressão, a mesma estará automaticamente favorecendo a aquisição da leitura e da escrita de seus alunos.
“A livre expressão facilita a criatividade da criança no desenho, na música, no teatro, extensões naturais da atividade infantil, progressivamente responsável por seus comportamentos afetivos, intelectuais e culturais” (FREINET, 1979, p. 31).

A escola, portanto, tem um papel fundamental na educação da infância cuja proposta pedagógica deverá atender a essas necessidades, oferecendo condições de organização de ambientes e de materiais em que a criança tenha oportunidade de realizar experiências, de vivenciar situações, com desafios e obstáculos, que elas próprias ultrapassam em um aprendizado naturalmente rico e saudável. São esses momentos significativos que promovem o processo de ensino e aprendizagem no favorecimento da construção da autonomia da criança.

Ao fazer suas próprias descobertas, criando seu caminho com independência, desenvolvendo em si a segurança, a livre escolha, a criança vai estruturando sua personalidade de forma consciente, criativa, autônoma capaz de cuidar de si, na construção de sua história em harmonia com os outros. É nesse sentido que Montessori enfatiza a questão do “ambiente preparado” para facilitar e favorecer o processo de crescimento do ser humano. Para essa educadora, a criança tem necessidade de manipulação de materiais específicos para o desenvolvimento da atenção, observação, motricidade, linguagem e percepções sensoriais. O ambiente preparado deve 41 oferecer à criança liberdade, livre escolha de atividades programadas; agindo pessoalmente por decisão e esforço próprios, a criança chega à descoberta do “eu” e do “não eu”, da causa e do efeito, da percepção do espaço e do tempo.

    Pintura, escultura, desenho e canto devem ser cultivados desde cedo, se quer dar uma educação completa e formar totalmente o homem, considerando-os objeto de ensino numa escola séria, não os deixando abandonados ao capricho infrutífero, à maneira do jogo (FROEBEL, 2001, p. 145)

    A expressividade da criança faz com que tenha acesso à realidade de uma forma mais intensa com uma compreensão maior do universo. Colocando em ação os sentidos e adentrando também no seu “eu” interior, fazendo aflorar suas faculdades. É a percepção de mundo que favorece a educação dos sentidos, a serviço da atividade criadora. A escola pode proporcionar o desenvolvimento, tanto no aspecto cognitivo quanto no socioafetivo, levando em conta os conhecimentos previamente adquiridos desde o nascimento da criança e os conhecimentos contextualmente construídos. Apontado por Rego (1995), o pensamento de Vygotsky faz uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana das crianças, que ele chamou de conceitos cotidianos ou espontâneos e aqueles elaborados em sala de aula.

    As ideias de Vygotsky colaboram nesse sentido, pois enfatiza a questão do ensino, que deve valorizar a criança como um ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também como alguém que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza.

    Segundo Piaget, o desenvolvimento do pensamento infantil requer ações, não apenas palavras. A teoria de Piaget enfatiza a iniciativa e atividade do sujeito, impulsionando os educadores a adotar novas atitudes estimular a criança através de métodos e atividades interessantes. Refletiu-se e constatou que o pensamento educacional, desde o início da história, concorre para um mesmo esforço, de fazer desabrochar as capacidades infantis, revelando toda a criatividade no aprendizado da vida. Revelado por ideias de Almeida (2001):

    As crianças, seres criativos em potencial, vivenciam situações de experiências diversas que ampliam suas referências de mundo. Esta afirmação impõe-nos pensar: no atual momento, as escolas infantis desenvolvem atividades que realmente permitem a elas se desenvolverem física e intelectualmente? Esse é o ideal perseguido por nós, comprometidos com a educação infantil (ALMEIDA, 2001, p. 235).

    O desenvolvimento da capacidade criadora deve constar como eixo principal dos objetivos pedagógicos na educação da infância. Lowenfeld (1977) defende a ideia de que a educação deve proporcionar os meios para que a criança desenvolva sua capacidade de criar e que o ato criativo em si possibilita novos conhecimentos, em que a criança tem a oportunidade de expandir seus sentimentos, suas ações, estruturando seu pensamento.

    Os primeiros anos de vida são, provavelmente, os mais decisivos no desenvolvimento da criança. Durante esse período inicial, ela começa a estabelecer padrões de aprendizagem, atitudes e um sentido de si mesma como ser, tudo o que irá ter reflexos em sua vida inteira. A arte pode contribuir imensamente para esse desenvolvimento, pois é na interação entre a criança e seu meio que se inicia a aprendizagem (LOWENFELD-BRITTAIN, 1997, p. 116).

O mundo das artes visuais, no qual está inserido o desenho, evidencia diversas linguagens: modelagem, pintura, tecelagem, canto, dança, teatro, colagens etc.; como formas essenciais de expressão e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, em particular. As manifestações infantis reveladas por meio da pintura, da escultura, do canto, da dança, da música, das brincadeiras etc, demonstram uma comunicabilidade com o mundo em uma relação lúdica que é prazerosa à criança. Observam-se essas afirmações no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), que enfatiza e valoriza a área das artes como primordial nas práticas de sala de aula com a criança.

As crianças têm suas próprias impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir daí constroem significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito da arte (RCNEI, p. 89).

Todas as modalidades artísticas devem ser contempladas pelo professor, para diversificar a ação das crianças na experimentação de materiais, do espaço e do próprio corpo. Entretanto, destaca-se o desenvolvimento do desenho por sua importância no fazer artístico da criança e na construção e ampliação das linguagens acima citadas. A expressão gráfica, além de fazer parte do mundo infantil, favorece as condições à escrita, à apreensão de mundo, criando e definindo sua identidade.

O desenho constitui para a criança uma atividade total, englobando o conjunto de suas potencialidades e de suas necessidades. Ao desenhar, a criança expressa a maneira pela qual se sente existir. O desenvolvimento do potencial criativo na criança, seja qual for o tipo de atividade em que ela se expresse, é essencial ao seu ciclo inato de crescimento. Similarmente, as condições para o seu pleno crescimento (emocional, psíquico, físico, cognitivo) não podem ser estáticas (DERDYK, 1994, p. 52).

    E por meio do desenho, a criança fala de sua afetividade e sensibilidade, revelando o seu desenvolvimento e a forma como conhece e compreende o mundo. A educação infantil deve propiciar esse encontro, no qual a criança tenha oportunidade de se expressar, de se fazer criança e desvelar sua essência imaginativa.

    A criança estabelece um vínculo existencial profundo com o desenho ou com qualquer outro ato criativo. Daí a necessidade de recolocarmos o desenvolvimento da linguagem gráfica, ou de qualquer outra manifestação expressiva, sob o signo da experiência e da vivência permanente (DERDYK, 1994, p. 117).

    O desenho, enquanto linguagem requisita uma postura global. Desenhar não é copiar formas, figuras, não é simplesmente proporção, escala. A visão parcial de um objeto nos revelará um conhecimento parcial desse mesmo objeto. Desenhar objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se (DERDYK, 1994, p. 24).

    Nesta linha de pensamento, coloca-se o desenho infantil como possibilidade na (re)construção e (re)invenção do conhecimento, para o favorecimento de uma aprendizagem significativa para a criança, revelando um “pensar” e um “fazer” coerentes com as suas necessidades, em um espaço e ambiente altamente construtivos e criativos em resposta às curiosidades infantis.

    A linguagem gráfica como linguagem própria da infância insere-se, portanto, como valiosa estratégia de ensino na educação da criança. De acordo com as teorias colocadas pelos estudiosos e educadores, desenvolvidas nesse trabalho e, pela vivência significativa da criança no momento do desenho, passa a considerá-lo como um dispositivo pedagógico, amplamente construtivo nas ações educativas, apontando caminhos e possibilidades, de forma a sanar as incertezas pedagógicas existentes na educação.

Artigo > Prof. Marcos L Souza

Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.

Referências Bibliográficas
FILHO, Lourenço. Introdução ao Estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
FERREIRA, Alexandra P. et al. A criança e o desenho animado. Trabalho de conclusão do
curso de graduação. Curso de Pedagogia. Universidade Católica Dom Bosco. 2002.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio escolar da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
FREINET, Élise. O Itinerário de Célestin Freinet. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves
Editora S. A, 1979.
FREINET, Célestin. O método natural II. A aprendizagem do desenho. Lisboa: Editorial
Estampa, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura)
FROEBEL, Friedrich W. A. A educação do homem. Tradução de Maria Helena Câmara
Bastos. – Passo Fundo: UPE, 2001.
GREIG, Philippe. A criança e seu desenho: o nascimento da arte e da escrita. Tradução de Fátima Murad. – Porto Alegre: Artmed, 2004.
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. Desenvolvimento do grafismo infantil. –
São Paulo: Scipione, 1994.
FILHO, Lourenço. Introdução ao Estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos,
1978.
FERREIRA, Alexandra P. et al. A criança e o desenho animado. Trabalho de conclusão do
curso de graduação. Curso de Pedagogia. Universidade Católica Dom Bosco. 2002.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio escolar da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
FREINET, Élise. O Itinerário de Célestin Freinet. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves
Editora S. A, 1979.




DESENHO, ALFABETIZAÇÃO
E LINGUAGEM

Em muitos desenhos que as crianças produzem podem representar a tentativa de escrita. Esses desenhos são uma forma de construir, organizar, registrar, expressar seu saber, uma forma de tradução de algum símbolo ou palavra que as mesmas ainda não dominam, representam também  noção de espaço, tempo, cores e até mesmo noção sociocultural. Os desenhos que as crianças produzem não podem ser considerados, como algo sem significação, isolado, descontextualizado, pois quando ela desenha algo, ela insere em um contexto que pode estar vivenciando, ou até que seja de sua imaginação.

Esses desenhos podem ser pequenos rabiscos que se misturam entre linhas retas e curvas, e o significado da escrita só à criança pode decifrar, pois é uma representação do que ela imagina o que seja escrita. Cada criança tem uma expectativa e desempenho na aprendizagem da escrita e leitura, é preciso conhecer a criança e o meio social em que ela vive para tentar decifrar e entender a sua tentativa de escrita.

É preciso que o mediador incentive e faça o aluno a ver o quanto é importante o ato da leitura e da escrita, estimular o interesse  a praticá-las, pois só assim eles aprenderam e encontrarão a melhor forma de aprender ler e escrever.

    É importante, que o aluno saiba o quê está desenhando, interpondo, decifrando a leitura de algo por meio dos rabiscos, figuras etc. E o significado de cada um, ou seja, toda forma de desenho deve ter um objetivo.

Através do desenho e das formas, o aluno tem possibilidades de expor e de se expressar criticamente sua relação com o mundo e com o outro. Se a escola permitir o acesso a trabalhos que favoreçam a prática artística como forma de leitura e expressão, a mesma estará automaticamente favorecendo a aquisição da leitura e da escrita de seus alunos.
“A livre expressão facilita a criatividade da criança no desenho, na música, no teatro, extensões naturais da atividade infantil, progressivamente responsável por seus comportamentos afetivos, intelectuais e culturais” (FREINET, 1979, p. 31).

A escola, portanto, tem um papel fundamental na educação da infância cuja proposta pedagógica deverá atender a essas necessidades, oferecendo condições de organização de ambientes e de materiais em que a criança tenha oportunidade de realizar experiências, de vivenciar situações, com desafios e obstáculos, que elas próprias ultrapassam em um aprendizado naturalmente rico e saudável. São esses momentos significativos que promovem o processo de ensino e aprendizagem no favorecimento da construção da autonomia da criança.

Ao fazer suas próprias descobertas, criando seu caminho com independência, desenvolvendo em si a segurança, a livre escolha, a criança vai estruturando sua personalidade de forma consciente, criativa, autônoma capaz de cuidar de si, na construção de sua história em harmonia com os outros. É nesse sentido que Montessori enfatiza a questão do “ambiente preparado” para facilitar e favorecer o processo de crescimento do ser humano. Para essa educadora, a criança tem necessidade de manipulação de materiais específicos para o desenvolvimento da atenção, observação, motricidade, linguagem e percepções sensoriais. O ambiente preparado deve 41 oferecer à criança liberdade, livre escolha de atividades programadas; agindo pessoalmente por decisão e esforço próprios, a criança chega à descoberta do “eu” e do “não eu”, da causa e do efeito, da percepção do espaço e do tempo.

    Pintura, escultura, desenho e canto devem ser cultivados desde cedo, se quer dar uma educação completa e formar totalmente o homem, considerando-os objeto de ensino numa escola séria, não os deixando abandonados ao capricho infrutífero, à maneira do jogo (FROEBEL, 2001, p. 145)

    A expressividade da criança faz com que tenha acesso à realidade de uma forma mais intensa com uma compreensão maior do universo. Colocando em ação os sentidos e adentrando também no seu “eu” interior, fazendo aflorar suas faculdades. É a percepção de mundo que favorece a educação dos sentidos, a serviço da atividade criadora. A escola pode proporcionar o desenvolvimento, tanto no aspecto cognitivo quanto no socioafetivo, levando em conta os conhecimentos previamente adquiridos desde o nascimento da criança e os conhecimentos contextualmente construídos. Apontado por Rego (1995), o pensamento de Vygotsky faz uma importante distinção entre os conhecimentos construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana das crianças, que ele chamou de conceitos cotidianos ou espontâneos e aqueles elaborados em sala de aula.

    As ideias de Vygotsky colaboram nesse sentido, pois enfatiza a questão do ensino, que deve valorizar a criança como um ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também como alguém que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza.

    Segundo Piaget, o desenvolvimento do pensamento infantil requer ações, não apenas palavras. A teoria de Piaget enfatiza a iniciativa e atividade do sujeito, impulsionando os educadores a adotar novas atitudes estimular a criança através de métodos e atividades interessantes. Refletiu-se e constatou que o pensamento educacional, desde o início da história, concorre para um mesmo esforço, de fazer desabrochar as capacidades infantis, revelando toda a criatividade no aprendizado da vida. Revelado por ideias de Almeida (2001):

    As crianças, seres criativos em potencial, vivenciam situações de experiências diversas que ampliam suas referências de mundo. Esta afirmação impõe-nos pensar: no atual momento, as escolas infantis desenvolvem atividades que realmente permitem a elas se desenvolverem física e intelectualmente? Esse é o ideal perseguido por nós, comprometidos com a educação infantil (ALMEIDA, 2001, p. 235).

    O desenvolvimento da capacidade criadora deve constar como eixo principal dos objetivos pedagógicos na educação da infância. Lowenfeld (1977) defende a ideia de que a educação deve proporcionar os meios para que a criança desenvolva sua capacidade de criar e que o ato criativo em si possibilita novos conhecimentos, em que a criança tem a oportunidade de expandir seus sentimentos, suas ações, estruturando seu pensamento.

    Os primeiros anos de vida são, provavelmente, os mais decisivos no desenvolvimento da criança. Durante esse período inicial, ela começa a estabelecer padrões de aprendizagem, atitudes e um sentido de si mesma como ser, tudo o que irá ter reflexos em sua vida inteira. A arte pode contribuir imensamente para esse desenvolvimento, pois é na interação entre a criança e seu meio que se inicia a aprendizagem (LOWENFELD-BRITTAIN, 1997, p. 116).

O mundo das artes visuais, no qual está inserido o desenho, evidencia diversas linguagens: modelagem, pintura, tecelagem, canto, dança, teatro, colagens etc.; como formas essenciais de expressão e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, em particular. As manifestações infantis reveladas por meio da pintura, da escultura, do canto, da dança, da música, das brincadeiras etc, demonstram uma comunicabilidade com o mundo em uma relação lúdica que é prazerosa à criança. Observam-se essas afirmações no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), que enfatiza e valoriza a área das artes como primordial nas práticas de sala de aula com a criança.

As crianças têm suas próprias impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico. Tais construções são elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida, que envolvem a relação com a produção de arte, com o mundo dos objetos e com seu próprio fazer. As crianças exploram, sentem, agem, refletem e elaboram sentidos de suas experiências. A partir daí constroem significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros conhecimentos a respeito da arte (RCNEI, p. 89).

Todas as modalidades artísticas devem ser contempladas pelo professor, para diversificar a ação das crianças na experimentação de materiais, do espaço e do próprio corpo. Entretanto, destaca-se o desenvolvimento do desenho por sua importância no fazer artístico da criança e na construção e ampliação das linguagens acima citadas. A expressão gráfica, além de fazer parte do mundo infantil, favorece as condições à escrita, à apreensão de mundo, criando e definindo sua identidade.

O desenho constitui para a criança uma atividade total, englobando o conjunto de suas potencialidades e de suas necessidades. Ao desenhar, a criança expressa a maneira pela qual se sente existir. O desenvolvimento do potencial criativo na criança, seja qual for o tipo de atividade em que ela se expresse, é essencial ao seu ciclo inato de crescimento. Similarmente, as condições para o seu pleno crescimento (emocional, psíquico, físico, cognitivo) não podem ser estáticas (DERDYK, 1994, p. 52).

    E por meio do desenho, a criança fala de sua afetividade e sensibilidade, revelando o seu desenvolvimento e a forma como conhece e compreende o mundo. A educação infantil deve propiciar esse encontro, no qual a criança tenha oportunidade de se expressar, de se fazer criança e desvelar sua essência imaginativa.

    A criança estabelece um vínculo existencial profundo com o desenho ou com qualquer outro ato criativo. Daí a necessidade de recolocarmos o desenvolvimento da linguagem gráfica, ou de qualquer outra manifestação expressiva, sob o signo da experiência e da vivência permanente (DERDYK, 1994, p. 117).

    O desenho, enquanto linguagem requisita uma postura global. Desenhar não é copiar formas, figuras, não é simplesmente proporção, escala. A visão parcial de um objeto nos revelará um conhecimento parcial desse mesmo objeto. Desenhar objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se (DERDYK, 1994, p. 24).

    Nesta linha de pensamento, coloca-se o desenho infantil como possibilidade na (re)construção e (re)invenção do conhecimento, para o favorecimento de uma aprendizagem significativa para a criança, revelando um “pensar” e um “fazer” coerentes com as suas necessidades, em um espaço e ambiente altamente construtivos e criativos em resposta às curiosidades infantis.

    A linguagem gráfica como linguagem própria da infância insere-se, portanto, como valiosa estratégia de ensino na educação da criança. De acordo com as teorias colocadas pelos estudiosos e educadores, desenvolvidas nesse trabalho e, pela vivência significativa da criança no momento do desenho, passa a considerá-lo como um dispositivo pedagógico, amplamente construtivo nas ações educativas, apontando caminhos e possibilidades, de forma a sanar as incertezas pedagógicas existentes na educação.

Artigo > Prof. Marcos L Souza

Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultoria, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação.

Referências Bibliográficas
FILHO, Lourenço. Introdução ao Estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
FERREIRA, Alexandra P. et al. A criança e o desenho animado. Trabalho de conclusão do
curso de graduação. Curso de Pedagogia. Universidade Católica Dom Bosco. 2002.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio escolar da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
FREINET, Élise. O Itinerário de Célestin Freinet. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves
Editora S. A, 1979.
FREINET, Célestin. O método natural II. A aprendizagem do desenho. Lisboa: Editorial
Estampa, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura)
FROEBEL, Friedrich W. A. A educação do homem. Tradução de Maria Helena Câmara
Bastos. – Passo Fundo: UPE, 2001.
GREIG, Philippe. A criança e seu desenho: o nascimento da arte e da escrita. Tradução de Fátima Murad. – Porto Alegre: Artmed, 2004.
DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. Desenvolvimento do grafismo infantil. –
São Paulo: Scipione, 1994.
FILHO, Lourenço. Introdução ao Estudo da Escola Nova. São Paulo: Melhoramentos,
1978.
FERREIRA, Alexandra P. et al. A criança e o desenho animado. Trabalho de conclusão do
curso de graduação. Curso de Pedagogia. Universidade Católica Dom Bosco. 2002.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio escolar da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
FREINET, Élise. O Itinerário de Célestin Freinet. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves
Editora S. A, 1979.




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