Entenda por que o letramento precoce pode ser prejudicial
O
letramento precoce é um assunto permeado por controvérsias. Enquanto
algumas instituições de ensino apostam em atividades ligadas à leitura e
à escrita, outras defendem a ideia de que é preciso preparar a criança
antes de abordar esse tipo de assunto.
Introduzida
pelo filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) em 1919, a
pedagogia Waldorf defende que os pequenos (com até 7 anos de idade)
tenham apenas uma responsabilidade na escola: brincar. Ao participar de
jogos e atividades lúdicas, meninos e meninas desenvolvem diversas
habilidades, entre físicas e motoras, além de um estímulo essencial para
a vida: a confiança. Segundo a teoria, nessa fase o aluno tende a
gastar muita energia e se prepara fisicamente – isso é fundamental para o
seu desenvolvimento neurológico e sensorial. Tais capacidades refletem
em domínio corporal, linguagem oral e, principalmente, contribuem para a
inteligência da criança.
Em poucas palavras: na educação infantil, aprimorar essas
características é mais importante do que aprender a ler o próprio nome.
“Eliminar atividades que favorecem a criatividade e o pensamento pode
ter consequências graves. Infelizmente, muitas dessas práticas estão
sendo substituídas pela escolarização antecipada”, alerta Luiz Carlos de
Freitas, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
Os ideais disseminados pelo croata têm ligação direta com estudos
elaborados por outro profissional de renome na área, o psicólogo
bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934). Ele dizia que a alfabetização é
resultado de um processo longo e repleto de etapas, como gestos e
expressões. Ao fazer um símbolo no ar, por exemplo, a criança já se
manifesta a partir de uma linguagem mais próxima da escrita. Esse
aprendizado gradual é imprescindível e deve acontecer nas classes de
primeira infância, sem que atividades mecânicas de leitura e escrita
atrapalhem ou forcem as etapas de desenvolvimento. “O letramento exige
um grau muito grande de amadurecimento neuromotor. Desse ponto de vista,
a criança só estará pronta para ser alfabetizada por volta dos 6 anos”,
afirma Eliana de Barros Santos, psicóloga e diretora pedagógica do
Colégio Global e da Escola Globinho. Segundo ela, brincar leva o aluno a
compreender a si mesmo, seus sentimentos e o mundo em que vive. “Essa
prática garante a formação das bases necessárias para a construção de
outras linguagens”, comenta.
Estimular a leitura precoce, por sua vez, compromete tal formação. Além
disso, pode ocasionar problemas como sobrecarga, deficiências na
coordenação motora, apatia, desinteresse, desmotivação e estresse.
“Aprender a ler não é simplesmente decifrar as letras, mas sim dominar
um sistema simbólico, o que exige um grande amadurecimento
neuropsíquico”, explica a diretora.
ANA
Essa discussão ganhou fôlego principalmente depois da implantação da
Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), criada pelo Ministério da
Educação (MEC) em 2013. Direcionada a estudantes do 3º ano do ensino
fundamental de escolas públicas, a prova avalia os índices de
alfabetização e letramento em língua portuguesa e matemática. O objetivo
é verificar se as crianças são preparadas corretamente para uma nova
fase da vida estudantil. No entanto, uma questão defendida por muitos
profissionais da área é que a aplicação de uma prova desse porte pode
não ser tão benéfica quanto parece e ter reflexos já nas classes de
educação infantil.
De acordo com Sandra Zákia Sousa, professora da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), a ANA tende a fortalecer uma visão que
já existe nas unidades escolares – a de que, na primeira infância, é
preciso preparar os estudantes para a etapa seguinte, o ensino
fundamental. “Fazer isso significa antecipar iniciativas relacionadas a
processos de alfabetização e letramento, ou seja, o educador pula etapas
importantes e passa a concentrar suas energias em algo que ainda não
precisaria ser abordado”, diz.
Para Freitas, testes como a ANA deveriam acontecer apenas a partir do
final do ensino fundamental. O formato também poderia ser diferente. O
interessante, segundo ele, é que o método avalie as políticas públicas
em geral e não a escola. “Um professor sabe muito bem em quais pontos
seus alunos são bons ou não”, ressalta.
Pais podem contribuir
Ao mesmo tempo em que a instituição exerce um papel importante, os pais
também devem redobrar o cuidado com o letramento precoce. De acordo com
Sandra, a pressão pode começar a ocorrer dentro de casa, quando os
familiares incentivam a criança a ler palavras ou a escrever nomes
aleatórios. “É fundamental que todos se atentem a isso. No lar, bem como
na escola, as atividades devem ser adequadas para a faixa etária”, diz.
Entenda por que o letramento precoce pode ser prejudicial
O
letramento precoce é um assunto permeado por controvérsias. Enquanto
algumas instituições de ensino apostam em atividades ligadas à leitura e
à escrita, outras defendem a ideia de que é preciso preparar a criança
antes de abordar esse tipo de assunto.
Introduzida
pelo filósofo e educador austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) em 1919, a
pedagogia Waldorf defende que os pequenos (com até 7 anos de idade)
tenham apenas uma responsabilidade na escola: brincar. Ao participar de
jogos e atividades lúdicas, meninos e meninas desenvolvem diversas
habilidades, entre físicas e motoras, além de um estímulo essencial para
a vida: a confiança. Segundo a teoria, nessa fase o aluno tende a
gastar muita energia e se prepara fisicamente – isso é fundamental para o
seu desenvolvimento neurológico e sensorial. Tais capacidades refletem
em domínio corporal, linguagem oral e, principalmente, contribuem para a
inteligência da criança.
Em poucas palavras: na educação infantil, aprimorar essas
características é mais importante do que aprender a ler o próprio nome.
“Eliminar atividades que favorecem a criatividade e o pensamento pode
ter consequências graves. Infelizmente, muitas dessas práticas estão
sendo substituídas pela escolarização antecipada”, alerta Luiz Carlos de
Freitas, diretor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
Os ideais disseminados pelo croata têm ligação direta com estudos
elaborados por outro profissional de renome na área, o psicólogo
bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934). Ele dizia que a alfabetização é
resultado de um processo longo e repleto de etapas, como gestos e
expressões. Ao fazer um símbolo no ar, por exemplo, a criança já se
manifesta a partir de uma linguagem mais próxima da escrita. Esse
aprendizado gradual é imprescindível e deve acontecer nas classes de
primeira infância, sem que atividades mecânicas de leitura e escrita
atrapalhem ou forcem as etapas de desenvolvimento. “O letramento exige
um grau muito grande de amadurecimento neuromotor. Desse ponto de vista,
a criança só estará pronta para ser alfabetizada por volta dos 6 anos”,
afirma Eliana de Barros Santos, psicóloga e diretora pedagógica do
Colégio Global e da Escola Globinho. Segundo ela, brincar leva o aluno a
compreender a si mesmo, seus sentimentos e o mundo em que vive. “Essa
prática garante a formação das bases necessárias para a construção de
outras linguagens”, comenta.
Estimular a leitura precoce, por sua vez, compromete tal formação. Além
disso, pode ocasionar problemas como sobrecarga, deficiências na
coordenação motora, apatia, desinteresse, desmotivação e estresse.
“Aprender a ler não é simplesmente decifrar as letras, mas sim dominar
um sistema simbólico, o que exige um grande amadurecimento
neuropsíquico”, explica a diretora.
ANA
Essa discussão ganhou fôlego principalmente depois da implantação da
Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), criada pelo Ministério da
Educação (MEC) em 2013. Direcionada a estudantes do 3º ano do ensino
fundamental de escolas públicas, a prova avalia os índices de
alfabetização e letramento em língua portuguesa e matemática. O objetivo
é verificar se as crianças são preparadas corretamente para uma nova
fase da vida estudantil. No entanto, uma questão defendida por muitos
profissionais da área é que a aplicação de uma prova desse porte pode
não ser tão benéfica quanto parece e ter reflexos já nas classes de
educação infantil.
De acordo com Sandra Zákia Sousa, professora da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), a ANA tende a fortalecer uma visão que
já existe nas unidades escolares – a de que, na primeira infância, é
preciso preparar os estudantes para a etapa seguinte, o ensino
fundamental. “Fazer isso significa antecipar iniciativas relacionadas a
processos de alfabetização e letramento, ou seja, o educador pula etapas
importantes e passa a concentrar suas energias em algo que ainda não
precisaria ser abordado”, diz.
Para Freitas, testes como a ANA deveriam acontecer apenas a partir do
final do ensino fundamental. O formato também poderia ser diferente. O
interessante, segundo ele, é que o método avalie as políticas públicas
em geral e não a escola. “Um professor sabe muito bem em quais pontos
seus alunos são bons ou não”, ressalta.
Pais podem contribuir
Ao mesmo tempo em que a instituição exerce um papel importante, os pais
também devem redobrar o cuidado com o letramento precoce. De acordo com
Sandra, a pressão pode começar a ocorrer dentro de casa, quando os
familiares incentivam a criança a ler palavras ou a escrever nomes
aleatórios. “É fundamental que todos se atentem a isso. No lar, bem como
na escola, as atividades devem ser adequadas para a faixa etária”, diz.
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