O conceito de afetividade
de Henri Wallon
Henri Wallon inovou ao colocar a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento...
Por: Fernanda Salla
Quando uma mãe abre os braços para receber um bebê que dá seus primeiros
passos, expressa com gestos a intenção de acolhê-lo e ele reage
caminhando em sua direção. Com esse movimento, a criança amplia seu
conhecimento e é estimulada a aprender a andar. Assim como ela, toda
pessoa é afetada tanto por elementos externos - o olhar do outro, um
objeto que chama a atenção, uma informação que recebe do meio - quanto
por sensações internas - medo, alegria, fome - e responde a eles. Essa
condição humana recebe o nome de afetividade e é crucial para o
desenvolvimento. Diferentemente do que se pensa, o conceito não é
sinônimo de carinho e amor (leia o resumo no quadro abaixo).
"Todo ser humano é afetado positiva e negativamente e reage a esses estímulos", explica Abigail Alvarenga Mahoney, pesquisadora convidada do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Grandes estudiosos, como Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), já atribuíam importância à afetividade no processo evolutivo, mas foi o educador francês Henri Wallon (1879-1962) que se aprofundou na questão. Ao estudar a criança, ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões - motora, afetiva e cognitiva -, que coexistem e atuam de forma integrada.
"O que é conquistado em um plano atinge o outro mesmo que não se tenha consciência disso", diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduada em Educação, da PUC-SP.
No exemplo dado, ao andar, o bebê desenvolve suas dimensões motora e cognitiva, com base em um estímulo afetivo. Um olhar repressor da mãe poderia impedi-lo de aprender.
"Todo ser humano é afetado positiva e negativamente e reage a esses estímulos", explica Abigail Alvarenga Mahoney, pesquisadora convidada do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Grandes estudiosos, como Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), já atribuíam importância à afetividade no processo evolutivo, mas foi o educador francês Henri Wallon (1879-1962) que se aprofundou na questão. Ao estudar a criança, ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões - motora, afetiva e cognitiva -, que coexistem e atuam de forma integrada.
"O que é conquistado em um plano atinge o outro mesmo que não se tenha consciência disso", diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduada em Educação, da PUC-SP.
No exemplo dado, ao andar, o bebê desenvolve suas dimensões motora e cognitiva, com base em um estímulo afetivo. Um olhar repressor da mãe poderia impedi-lo de aprender.
Wallon defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de alguma forma. Ele nasce com um equipamento orgânico, que lhe dá determinados recursos, mas é o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam.
"Uma criança com um aparelho fonador em perfeitas condições, por exemplo, só vai desenvolver a fala se estiver em um ambiente que desperte isso, com falantes que possam ser imitados e outros mecanismos de aprendizagem", explica Laurinda.
Assim como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em etapas, que para ele são cinco: impulsivo-emocional; sensório-motor e projetivo; personalismo; categorial; e puberdade e adolescência. Ao longo desse processo, a afetividade e a inteligência se alternam. No primeiro ano de vida, a função que predomina é a afetividade. O bebê a usa para se expressar e interagir com as pessoas, que reagem a essas manifestações e intermediam a relação dele com o ambiente. Depois, na etapa sensório-motora e projetiva, a inteligência prepondera. É o momento em que a criança começa a andar, falar e manipular objetos e está voltada para o exterior, ou seja, para o conhecimento. Essas mudanças não significam, no entanto, que uma das funções desaparece.
Como explica Izabel Galvão no livro Henri Wallon: Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil, "apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não são funções exteriores uma à outra. Ao reaparecer como atividade predominante, uma incorpora as conquistas da anterior".
As três manifestações da afetividade
Wallon mostra que a afetividade é expressa de três maneiras: por meio da
emoção, do sentimento e da paixão. Essas manifestações surgem durante
toda a vida do indivíduo, mas, assim como o pensamento infantil,
apresentam uma evolução, que caminha do sincrético para o diferencial. A
emoção, segundo o educador, é a primeira expressão da afetividade. Ela
tem uma ativação orgânica, ou seja, não é controlada pela razão. Quando
alguém é assaltado e fica com medo, por exemplo, pode sair correndo
mesmo sabendo que não é a melhor forma de reagir.
O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo. .
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias usadas em sala de aula.
"Se o professor consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor do conhecimento, controlando a situação. Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém os dois termos não são sinônimos." explica Laurinda.
O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo. .
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias usadas em sala de aula.
"Se o professor consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor do conhecimento, controlando a situação. Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém os dois termos não são sinônimos." explica Laurinda.
Trecho de livro
"O espaço não é primitivamente uma
ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação a nós
próprios, e nessa relação é grande o papel da afetividade, da pertença,
do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento."
Henri Wallon no livro Do Ato ao Pensamento
Comentário
Neste trecho, Wallon mostra que a afetividade está sempre presente em
todos os momentos, movimentos e circunstâncias de nossas ações, assim
como o ato motor e a cognição. O espaço permite a aproximação ou o
retraimento em relação a sensações de bem-estar ou mal-estar. É
importante saber o que a escola, a sala de aula, a distribuição das
carteiras e a organização do ambiente provocam nos alunos: abraço ou
repulsa.
Resumo do conceito:
Afetividade
Elaborador: Henri Wallon (1879-1962)
O
termo se refere à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou
negativamente tanto por sensações internas como externas. A afetividade é
um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição
e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do
conhecimento.
O conceito de afetividade
de Henri Wallon
Henri Wallon inovou ao colocar a afetividade como um dos aspectos centrais do desenvolvimento...
Por: Fernanda Salla
Quando uma mãe abre os braços para receber um bebê que dá seus primeiros
passos, expressa com gestos a intenção de acolhê-lo e ele reage
caminhando em sua direção. Com esse movimento, a criança amplia seu
conhecimento e é estimulada a aprender a andar. Assim como ela, toda
pessoa é afetada tanto por elementos externos - o olhar do outro, um
objeto que chama a atenção, uma informação que recebe do meio - quanto
por sensações internas - medo, alegria, fome - e responde a eles. Essa
condição humana recebe o nome de afetividade e é crucial para o
desenvolvimento. Diferentemente do que se pensa, o conceito não é
sinônimo de carinho e amor (leia o resumo no quadro abaixo).
"Todo ser humano é afetado positiva e negativamente e reage a esses estímulos", explica Abigail Alvarenga Mahoney, pesquisadora convidada do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Grandes estudiosos, como Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), já atribuíam importância à afetividade no processo evolutivo, mas foi o educador francês Henri Wallon (1879-1962) que se aprofundou na questão. Ao estudar a criança, ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões - motora, afetiva e cognitiva -, que coexistem e atuam de forma integrada.
"O que é conquistado em um plano atinge o outro mesmo que não se tenha consciência disso", diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduada em Educação, da PUC-SP.
No exemplo dado, ao andar, o bebê desenvolve suas dimensões motora e cognitiva, com base em um estímulo afetivo. Um olhar repressor da mãe poderia impedi-lo de aprender.
"Todo ser humano é afetado positiva e negativamente e reage a esses estímulos", explica Abigail Alvarenga Mahoney, pesquisadora convidada do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Grandes estudiosos, como Jean Piaget (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934), já atribuíam importância à afetividade no processo evolutivo, mas foi o educador francês Henri Wallon (1879-1962) que se aprofundou na questão. Ao estudar a criança, ele não coloca a inteligência como o principal componente do desenvolvimento, mas defende que a vida psíquica é formada por três dimensões - motora, afetiva e cognitiva -, que coexistem e atuam de forma integrada.
"O que é conquistado em um plano atinge o outro mesmo que não se tenha consciência disso", diz Laurinda Ramalho de Almeida, vice-coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduada em Educação, da PUC-SP.
No exemplo dado, ao andar, o bebê desenvolve suas dimensões motora e cognitiva, com base em um estímulo afetivo. Um olhar repressor da mãe poderia impedi-lo de aprender.
Wallon defende que o processo de evolução depende tanto da capacidade biológica do sujeito quanto do ambiente, que o afeta de alguma forma. Ele nasce com um equipamento orgânico, que lhe dá determinados recursos, mas é o meio que vai permitir que essas potencialidades se desenvolvam.
"Uma criança com um aparelho fonador em perfeitas condições, por exemplo, só vai desenvolver a fala se estiver em um ambiente que desperte isso, com falantes que possam ser imitados e outros mecanismos de aprendizagem", explica Laurinda.
Assim como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em etapas, que para ele são cinco: impulsivo-emocional; sensório-motor e projetivo; personalismo; categorial; e puberdade e adolescência. Ao longo desse processo, a afetividade e a inteligência se alternam. No primeiro ano de vida, a função que predomina é a afetividade. O bebê a usa para se expressar e interagir com as pessoas, que reagem a essas manifestações e intermediam a relação dele com o ambiente. Depois, na etapa sensório-motora e projetiva, a inteligência prepondera. É o momento em que a criança começa a andar, falar e manipular objetos e está voltada para o exterior, ou seja, para o conhecimento. Essas mudanças não significam, no entanto, que uma das funções desaparece.
Como explica Izabel Galvão no livro Henri Wallon: Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil, "apesar de alternarem a dominância, afetividade e cognição não são funções exteriores uma à outra. Ao reaparecer como atividade predominante, uma incorpora as conquistas da anterior".
As três manifestações da afetividade
Wallon mostra que a afetividade é expressa de três maneiras: por meio da
emoção, do sentimento e da paixão. Essas manifestações surgem durante
toda a vida do indivíduo, mas, assim como o pensamento infantil,
apresentam uma evolução, que caminha do sincrético para o diferencial. A
emoção, segundo o educador, é a primeira expressão da afetividade. Ela
tem uma ativação orgânica, ou seja, não é controlada pela razão. Quando
alguém é assaltado e fica com medo, por exemplo, pode sair correndo
mesmo sabendo que não é a melhor forma de reagir.
O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo. .
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias usadas em sala de aula.
"Se o professor consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor do conhecimento, controlando a situação. Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém os dois termos não são sinônimos." explica Laurinda.
O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo. .
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias usadas em sala de aula.
"Se o professor consegue entender o que ocorre quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a favor do conhecimento, controlando a situação. Não é possível falar em afetividade sem falar em emoção, porém os dois termos não são sinônimos." explica Laurinda.
Trecho de livro
"O espaço não é primitivamente uma
ordem entre as coisas, é antes uma qualidade das coisas em relação a nós
próprios, e nessa relação é grande o papel da afetividade, da pertença,
do aproximar ou do evitar, da proximidade ou do afastamento."
Henri Wallon no livro Do Ato ao Pensamento
Comentário
Neste trecho, Wallon mostra que a afetividade está sempre presente em
todos os momentos, movimentos e circunstâncias de nossas ações, assim
como o ato motor e a cognição. O espaço permite a aproximação ou o
retraimento em relação a sensações de bem-estar ou mal-estar. É
importante saber o que a escola, a sala de aula, a distribuição das
carteiras e a organização do ambiente provocam nos alunos: abraço ou
repulsa.
Resumo do conceito:
Afetividade
Elaborador: Henri Wallon (1879-1962)
O
termo se refere à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou
negativamente tanto por sensações internas como externas. A afetividade é
um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição
e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do
conhecimento.
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